As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatandoA Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
3
Cessem do sábio Grego e do TroianoAs navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
__________________________________________________________________________________
- "as armas e os barões": as batalhas e os homens notáveis ("assinalados") que tiveram a coragem de navegar mares desconhecidos e tentar ultrapassar os seus próprios limites humanos ("mais do que prometia a força humana") para alargarem as fronteiras em locais longínquos;
- "as memórias dos reis" que lutaram para expandir a Fé cristã em África e na Ásia;
- a "memória" de todos os que, pelos feitos praticados, nunca mais serão esquecidos, imortalizando o seu nome e o de todos os portugueses ("libertar da lei da morte").
Assim sendo, todos os antigos poemas épicos e heróis (Ulisses, Eneias, Alexandre...) "nada" valem, porque outros heróis e outros feitos os ultrapassaram e aqueles cairão no esquecimento. Os próprios deuses se renderam aos portugueses, o que simboliza o heroísmo que manifestaram na guerra (Marte) e no mar (Neptuno).
Recursos estilísticos predominantes:
- sinédoque: "ocidental praia lusitana" em vez de Portugal (a parte em vez do todo);
- hipérbole: "mais do que prometia a força humana" (exagero da realidade);
- metáfora e perífrase: "se vão da lei da morte libertando"= tornam-se imortais.
Destaco, agora, alguns conectores do discurso:
- "e também": aditivo;
- "que eu canto o peito ilustre[...]": causal.
Sem comentários:
Enviar um comentário