25 de novembro de 2009

Para reflectir


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O sujeito poético, em contraponto com a ideologia constante do poema épico:
  • Não é herói: é simplesmente um homem, um anti-herói, para quem o mar e a guerra são locais de provação e não de exaltação de coragem: "Agora o mar, agora experimentando/Os perigos Mavórcios inumanos"(est. 79);
  • Nada lhe é dado nem reconhecido, em termos de recompensa, como acontece com os heróis: "A troco dos descansos que esperava/ Das capelas de louro que me honrassem/ Trabalhos nunca usados me inventaram"(est. 81);
  • É votado ao esquecimento, ao contrário da imortalidade com que coroa os seus heróis: "tamanhas misérias", "em tão duro estado me deitaram"(est. 81).

"Mísera sorte, estranha condição!"(Canto IV, est. 104) -- palavras anteriormente proferidas pelo Velho do Restelo, a propósito da desmedida ambição humana e que aqui se adequam ao estado de espírito amargo e desiludido do sujeito poético.


.Fotografia de ilustração de Os Lusíadas do saudoso amigo e colega Arqt. Eduardo Bairrada
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24 de novembro de 2009

As reflexões do Poeta

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A armada portuguesa chegou, finalmente, a Calecute e, antes de se iniciar outra narrativa sobre as figuras das bandeiras que representam personagens históricas importantes, o sujeito poético (Camões) faz como que uma pausa para dar voz a si próprio, a reflexões e críticas de carácter social e político e confidências quase íntimas.

Canto VII

78
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.

Volta a pedir inspiração , tal como no Canto I, às Tágides e ninfas do Mondego para que o ajudem no que ele apelida metaforicamente de "caminho árduo, longo e vário", contra tantos obstáculos que se levantam e que, sozinho, não tem meios de enfrentar, porque o "batel é fraco".


79
Olhai que há tanto tempo que, cantando                           ||| A metáfora da vida como
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,                                         "peregrinação".
A fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo, e novos danos:                             |||A conjunção coordenativa
Agora o mar, agora experimentando                                      disjuntiva: agora=ora.
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Canace, que à morte se condena,
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena.

80
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo, mais que nunca, derribado;
Agora às costas escapando a vida,
Que dum fio pendia tão delgado                                       ||| A metáfora da "vida por um fio".
Que não menos milagre foi salvar-se
Que para o Rei Judaico acrescentar-se.

81
E ainda, Ninfas minhas, não bastava                                  ||| A apóstrofe às Ninfas.
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles, que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem:                         ||| A ironia amarga: "tal prémio".
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas de louro que me honrassem,                           ||| A antítese: "descansos"#"trabalhos".
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram.


A sua vida tem sido como que uma "peregrinação", pelo mar, na guerra, mas sem desistir nunca da escrita ( "a espada e a pena").
Sempre pobre, ora arriscando a vida, ora recuperando a esperança. Mas, principalmente, a amargura de não ver a sua obra reconhecida e sentir que lhe infligiam punições, quando esperaria "capelas de louro", a recompensa e coroação devidas ao Poeta!
(Continua)


16 de novembro de 2009

No dia do seu aniversário...

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...deixo aqui um poema de José Saramago:
(reparem no título!!)

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,                                                           
E são brinquedos as bombas de napalme.
Imagem da web

15 de novembro de 2009

«Os Lusíadas»: uma visão multidisciplinar

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Em suporte audiovisual, de elevada qualidade científica, deixo-vos os "documentos" que encontrei.













11 de novembro de 2009

Heróis e Mitos: o Adamastor



A partir do trabalho de colegas vossos (Beatriz e João do 12ºB), fiz um Powerpoint onde se destacam, de um modo esquemático, as funções do herói e do mito, em particular, o Gigante Adamastor:




10 de novembro de 2009

A mitologia em «Os Lusíadas»


De alguns dos trabalhos que me enviaram, retirei tópicos que me parecem úteis para a recapitulação de alguns conteúdos, neste caso, a função da mitologia em Os Lusíadas:



Obedece às regras da epopeia clássica: conter um plano mitológico com os deuses da sua civilização, e tal acto apenas revela o enorme conhecimento e a profunda admiração que Camões nutria pela Antiguidade Clássica;


• Assegura a acção interna do poema épico ao opor deuses e humanos, possibilitando a demonstração de emoções sem por isso enfraquecer o seu poder;



Embeleza a intriga, tornando a obra mais do que um especial relato de viagem, e criando um outro ponto de interesse sem porém tirar a importância ao plano da narração; "enfeita", dando mais emoção à história, tornando-a mais uma espécie de “novela” do que apenas um “relatório”;                               

• Mostra que até mesmo os deuses conseguem exprimir sentimentos como o amor, ódio, inveja e sensualidade;                                                      

Imagem da web

Glorifica o povo português ao colocá-lo em cenários adversos criados pelos deuses, mas que ainda assim conseguem ser superados, criando uma comparação entre a força de ambos;


• Evidencia a grandeza dos feitos portugueses como: vencer o mar (Neptuno), ultrapassar o gigante Adamastor e vencer as guerras (Marte);

• Demonstra que os portugueses enquanto heróis são deuses, pois tornam-se  "imortais" pelos feitos praticados.

9 de novembro de 2009

A propósito da ida a Sintra....


No próximo dia 12, vão a Sintra.

Pensem, então, embora na perspectiva de quem fica, o que seria partir e, ao longo da costa, ir avistando alguns dos mais belos e sagrados locais, como é o caso da Serra de Sintra.  

Camões descreveu essa experiência de partir sem saber se se regressava, escrevendo sobre a Saudade ("Ficava-nos também na amada terra/O coração"):


«Já a vista pouco e pouco se desterra
Daqueles pátrios montes que ficavam;
Ficava o caro Tejo, e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam.
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais enfim que mar e céu.»

Canto V, estância 3





....Imagem da web


2 de novembro de 2009

Para ajudar a estudar:

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Para estarem mais familiarizados com o modelo de teste sobre Os Lusíadas, disponibilizo aqui um teste formativo que devem imprimir e levar para a aula:



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