31 de maio de 2010

Fim de ano lectivo, mais um ano a terminar!


Com este desenho da Rita (12º L), com que ilustro o poema de José Saramago ( e com que "ilustro", também, metaforicamente, a construção deste blogue), concluo a publicação de posts este ano lectivo! Foi difícil manter o ritmo e apresentar conteúdos que fossem originais, uma vez que há muitos estudos online. Mais uma vez, com a colaboração dos meus alunos, tentei cumprir a missão!

Que as palavras sejam, realmente, "linhas mestras" que possam abrir caminhos!! como diz o poeta. E que ajudem a construir estruturas sólidas, acrescento eu!

Da Rita, 12º L

Palma com palma,
Coração e coração, e gosto de alma
No mais fundo do corpo revelado.
Já a pele não separa, que as palavras
São espelhos rigorosos da verdade
E todas se articulam deste lado.
Linhas mestras da mão abram caminho
Onde possam caber os passos firmes
Da rainha e do rei desta cidade.

José Saramago

24 de maio de 2010

Concerto em Mafra



Eis aqui um concerto que teve lugar, ontem, dia 23 de Maio, na Basílica de Mafra, onde tocaram os seis órgãos, agora recuperados, instrumento patrimonial único.
O vídeo mostra-nos, também, os magníficos pormenores arquitectónicos deste monumento.




10 de maio de 2010

Trabalhos dos alunos



Comecei a publicar no blogue "ao lado", os trabalhos que os alunos me vão enviando sobre o Memorial do Convento. A sua consulta pode ajudar ao estudo da obra.


4 de maio de 2010

Memorial do Convento: proposta de análise, I Capítulo


Fizemos a leitura comentada, em aula, do I Capítulo do Memorial do Convento.E devemos prestar atenção ao facto de que o título remete para a classificação tipológica desta narrativa: 
  • romance  histórico, que evoca memórias desse tempo histórico passado, em que o Convento de Mafra foi mandado erigir, reinado de D. João V;
  • romance de espaço, se considerarmos que é o Convento que inspira e serve de pretexto para a elaboração desta narrativa.
Topoi (tópicos) a destacar no I Capítulo:
  • o casamento do rei com D. Maria Ana, vinda da Áustria, com o único intuito: o de assegurar a descendência e a sucessão legítima da família real portuguesa;
  • a provável esterilidade da rainha, que não engravidava.
Comentário: repare-se na ironia e na intenção crítica do narrador, heterodiegético, que numa atitude de "omnisciência", se distancia da "sua" narrativa para denunciar os valores predominantes da sociedade -- a eterna "culpa" da mulher, a sua posição passiva e receptiva perante o homem: "vaso de receber", "paciência e humildade da rainha"; em oposição, o homem é caracterizado como o elemento activo e cujo comportamento nunca é censurado: "abundam no reino bastardos da real semente", " cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal". 
Em suma, para que fosse celebrado o casamento entre pessoas de classe social superior (reis, nobreza) não era necessário e seria mesmo dispensável o Amor, porque este sentimento era superado por interesses de vária ordem.
  • a religiosidade fanática: os comportamentos incoerentes, as orações muitas vezes hipocritamente devotas, as promessas que só os poderosos estavam em condições de cumprir, porque eram megalómanas e muito pouco de acordo com a humildade pregada por Cristo;
  • a superstição: afectava os comportamentos quotidianos e confundia-se, frequentemente, com o culto cristão.
Exemplo: a promessa "encomendada" de mandar construir um convento em Mafra, se a rainha ficasse "prenha"; rezar antes, para o caso de morrer durante o acto sexual (eros/thanathos), para que esse "pecado" lhes fosse perdoado- concepção tradicional da culpa associada ao prazer carnal.
  • o poder libertador do sonho que ninguém controla: a rainha sonha com o cunhado depois de ter tido relações com o marido. Mas também o sonho como manifestação das pulsões mais íntimas que assolavam este ser "oprimido", a rainha (reparem na aparente contradição);
Comentário: este sonho tornar-se-ia ainda mais censurável se fosse conhecido, porque era incestuoso, "proibido", um tabu (frequentemente quebrado). O cunhado era um "irmão": "deste sonho nunca dará contas ao confessor".
  • a descrição pormenorizada do espaço físico, luxuoso e sórdido: mobiliário magnífico, mas infectado de pragas de parasitas;
  • a falta de higiene em que se vivia nessa época, mesmo as pessoas de classe social elevada.
Comentário: A rainha tinha um cobertor que tinha trazido da sua terra natal, única recordação  da infância e das suas origens, que nunca lavava, para não o "limpar" desses cheiros da memória perdida (interpretação simbólica); os percevejos que abundavam representam também, a "sujidade" que se esconde por detrás de tanto luxo e magnificência. Simbolizará, em última análise, a ameaça que espera todos os homens, mesmo os soberanos!!, de que o seu fim é igual ao de todos os outros mortais. O espaço físico assume, então, uma representatividade social e psicológica.