28 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa: Vida e Obra



Aqui se encontra, "fragmentado", o documentário visionado nas aulas:












24 de janeiro de 2010

A Mensagem: História e Mito, Deus e o Homem



"O mito é nada que é tudo".


É com estas palavras, aparentemente paradoxais (Ulisses) que Fernando Pessoa apresenta a sua visão dos Heróis portugueses e de um Portugal, simultaneamente histórico e mítico. 
Um mito baseia-se numa realidade, mas constrói-se de sonhos. A quem compete concretizar esses sonhos? "preencher" de tudo o que é nada? Aos Heróis, àqueles que foram os eleitos de um Deus que "quis" que fossem os Portugueses a realizar, a cumprir esse Sonho, materializá-lo em termos de Império: "Deus quis, o Homem sonha, a Obra nasce." (O Infante).
Portugal teve uma origem mítica, os seus reis e outros heróis "limitaram-se" a cumprir a Vontade de Deus: Afonso Henriques que venceu os infiéis; D. Dinis que mandou plantar os pinhais de Leiria para que houvesse madeira para construir as naus ("o plantador de naus a haver"); D. Sebastião, que protagoniza o Sonho do Homem que ultrapassa a sua condição de "besta sadia", pela "Loucura", uma espécie de dimensão visionária do Homem. 
Os sacrifícios serão imensos: "Ó mar salgado, quanto do teu sal/ são lágrimas de Portugal" (Mar Português). Mas ninguém é Herói se não ultrapassar as "provas", os obstáculos que permitirão que, posteriormente, tal como os marinheiros de Os Lusíadas tiveram como prémio o Amor das Ninfas, obtenham, na Mensagem, a recompensa de "Os beijos merecidos da Verdade" ( Horizonte).                                                         
 Desenho do João do 12ºB


Os Portugueses foram "sagrados" por Deus e, mesmo sabendo que "o Império se desfez" (Infante), há que romper o Nevoeiro que apenas encobre o que se há-de revelar! uma perspectiva de Império, o Quinto Império, que será português, "a Distância/ Do mar ou outra, mas que seja nossa!" (Prece). Alguém virá reencarnar a "loucura" de D. Sebastião, o Encoberto, o Desejado: "Quem vem viver a verdade/Que morreu D. Sebastião?" (O Quinto Império). 
E neste momento de "entristecimento", de "nevoeiro", de decadência de Portugal, há que não esquecer que, em qualquer momento, pode ser a "Hora"! (Nevoeiro).
O Sebastianismo messiânico de quem espera uma redenção futura faz-se através de um apelo profético de quem não deixa de acreditar no poder das forças ocultas do Homem Português, na sua "sagração" por Deus, na sua ânsia de "loucura"


(Da minha autoria)

22 de janeiro de 2010

«E a nossa grande Raça partirá...

...em busca de uma Índia nova que não existe no espaço, em naves que são construídas 'daquilo de que os sonhos são feitos'».





Desenho do João, 12ºB


«[...] Somos um grande povo de heróis adiados.[...] Somos hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita da geografia. [...] O Atlântico continua no seu lugar, até simbolicamente. E há sempre Império desde que haja Imperador.»


«A base da pátria é o idioma, porque o idioma é o pensamento em acção, e o homem é um animal pensante, e a acção é a essência da vida. O idioma, por isso mesmo que é uma tradição verdadeiramente viva , a única verdadeiramente viva, concentra em si, indistintiva e naturalmente, um conjunto de tradições, de maneiras de ser e de pensar, uma história e uma lembrança, um passado morto que só nele pode reviver. Não somos irmãos, embora possamos ser amigos, dos que falam uma língua diferente, pois com isso mostram que têm uma alma diferente.»


«Para justificar a sua aspiração (de agora) a um império cultural, tem Portugal, além da tradição quebrada desse império, isto é, da indicação inicial nesse sentido, a felicidade de não ter tido até agora uma grande literatura, mas uma literatura escassa e pequena, de modo que está quase tudo por fazer nesse campo,  o que torna possível o fazer tudo, e como deve ser feito.
“Fará paz em todo o mundo”, diz o Bandarra de D. Sebastião. E a paz em todo o Mundo, só numa fraternidade por enquanto imprevisível, mas que por certo exigirá um meio de comunicação igual - uma língua


Fernando Pessoa (fragmentos por mim seleccionados)

18 de janeiro de 2010

A Mensagem: estrutura da obra

A MENSAGEM
Estrutura:  divisão em três partes:

  • Brasão: inclui o conjunto de poemas cuja temática antecipa os feitos praticados no período dos Descobrimentos, assim como a referência aos Heróis que tornaram possível esse empreendimento
Exemplo: D. Dinis  que, ao mandar plantar o pinhal de Leiria, como que inspirado por uma vontade divina, contribuiu, inconscientemente, para que as navegações se realizassem. -“O plantador de naus a haver”.


  • Mar Português: inclui o conjunto de poemas que enaltece o presente das Descobertas, a realização do que já se anunciara.
Referência a Heróis individuais, como, por exemplo, o Infante D. Henrique a cuja acção se deve a realização dos Descobrimentos, sob inspiração divina:- "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.".

  • O Encoberto: inclui o conjunto de poemas que aborda a temática da decadência de Portugal, num futuro após o desaparecimento de D. Sebastião e até ao presente da escrita. No entanto, esses poemas contêm uma mensagem de esperança e de crença numa recuperação da grandiosidade perdida e reconstituição de um Quinto Império.
Exemplo: Do poema “Nevoeiro”, estes versos que se referem à decadência de Portugal, simbolizada pelo nevoeiro, mas também a exortação a que não se desista na conquista de uma revelação futura. -“Tudo é disperso, nada é inteiro. /Ó Portugal, hoje és nevoeiro... /É a hora!”.

17 de janeiro de 2010

Mensagem: um título "iniciático"


A Marta (12ºB) enviou-me esta foto de quando fizeram a visita de estudo à Regaleira. Mostra o poço "iniciático". Lembrei-me de ilustrar com ela estas palavras de Fernando Pessoa:

«O meu livro "Mensagem" chamava-se primitivamente "Portugal". Alterei o título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar — a observação era por igual patriótica e publicitária — que o nome da nossa Pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia.(1) «Quer V. pôr o título do seu livro em analogia com "portugalize os seus pés?"» Concordei e cedi, como concordo e cedo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador.
Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o por um título concreto por uma razão...
E o curioso é que o título "Mensagem" está mais certo — àparte a razão que me levou a pô-lo — de que o título primitivo.[...]. »


(1)Hotel Bragança, apelido da família real.


(Sublinhados meus)


Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979. in http://arquivopessoa.net/


5 de janeiro de 2010

Novo Ano


Neste início de ano, perante a dificuldade de escolher um texto mais adequado, decidi colocar um poema de Fernando Pessoa, que irá fazer parte do programa deste 2º Período.
Nele encontramos o que costuma constar dos nossos votos de novo ano: a esperança de renovação!


PRECE


Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saudade.


Mas a chamma, que a vida em nós creou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguel-a ainda.


Dá o sopro, a aragem- ou desgraça ou ancia-
Com que a chamma do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distancia-
Do mar ou outra, mas que seja nossa!


Fernando Pessoa, A Mensagem