31 de janeiro de 2014

Efemérides: 31 de janeiro

O dia, em 1891, da primeira revolta republicana em Portugal, no Porto.

11º Ano

 
Teste Intermédio, dia 24 fevereiro. 
 
 
 
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30 de janeiro de 2014

A Mensagem: História e Mito

«O mito é nada que é tudo.»
 
É com estas palavras, aparentemente paradoxais (Ulisses), que Fernando Pessoa apresenta a sua visão dos Heróis portugueses e de um Portugal, simultaneamente histórico e mítico. 
 
Um mito baseia-se numa realidade, mas constrói-se de sonhos. A quem compete concretizar esses sonhos? "preencher" de tudo o que é nada? Aos Heróis, àqueles que foram os eleitos de um Deus que "quis" que fossem os Portugueses a realizar, a cumprir esse Sonho, materializá-lo em termos de Império: "Deus quis, o Homem sonha, a Obra nasce." (O Infante).
Portugal teve uma origem mítica, os seus reis e outros heróis "limitaram-se" a cumprir a Vontade de Deus: Afonso Henriques que venceu os infiéis; D. Dinis que mandou plantar os pinhais de Leiria para que houvesse madeira para construir as naus ("o plantador de naus a haver"); D. Sebastião, que protagoniza o Sonho do Homem que ultrapassa a sua condição de "besta sadia", pela "Loucura", uma espécie de dimensão visionária do Homem. 
Os sacrifícios serão imensos: "Ó mar salgado, quanto do teu sal/ são lágrimas de Portugal" (Mar Português). Mas ninguém é Herói se não ultrapassar as "provas", os obstáculos que permitirão que, posteriormente, tal como os marinheiros de Os Lusíadas tiveram como prémio o Amor das Ninfas, obtenham, na Mensagem, a recompensa de "Os beijos merecidos da Verdade" ( Horizonte).                                                         
 
Os Portugueses foram "sagrados" por Deus e, mesmo sabendo que "o Império se desfez" (Infante), há que romper o Nevoeiro que apenas encobre o Futuro! uma perspetiva de Império, o Quinto Império, que será português, "a Distância/ Do mar ou outra, mas que seja nossa!" (Prece).
 
Alguém virá reencarnar a "loucura" de D. Sebastião, o Encoberto, o Desejado: "Quem vem viver a verdade/Que morreu D. Sebastião?" (O Quinto Império). 
E neste momento de "entristecimento", de "nevoeiro", de decadência de Portugal, há que não esquecer que, em qualquer momento, pode ser a "Hora"! (Nevoeiro).
O Sebastianismo messiânico de quem espera uma redenção futura faz-se através de um apelo profético de quem não deixa de acreditar no poder das forças ocultas do Homem Português, na sua "sagração" por Deus, na sua ânsia de "loucura"
 

28 de janeiro de 2014

A Mensagem: estrutura

A MENSAGEM
Estrutura:  divisão em três partes:
 
  • Brasão: inclui o conjunto de poemas cuja temática antecipa os feitos praticados no período dos Descobrimentos, assim como a referência aos Heróis que tornaram possível esse empreendimento
Exemplo: D. Dinis  que, ao mandar plantar o pinhal de Leiria, como que inspirado por uma vontade divina, contribuiu para que as navegações se realizassem. -“O plantador de naus a haver”.
 
  • Mar Português: inclui o conjunto de poemas que enaltece o presente das Descobertas, a realização do que já se anunciara.
Referência, por exemplo, ao Infante D. Henrique a cuja ação se deve a realização dos Descobrimentos, sob inspiração divina:- "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce."
 
  • O Encoberto: inclui o conjunto de poemas que aborda a temática da decadência de Portugal, num futuro após o desaparecimento de D. Sebastião e até ao presente da escrita. No entanto, esses poemas contêm uma mensagem de esperança e de crença numa recuperação da grandiosidade perdida e reconstituição de um Quinto Império.
Exemplo: Do poema “Nevoeiro”, estes versos que se referem à decadência de Portugal, simbolizada pelo nevoeiro, mas também a exortação a que não se desista na conquista de uma revelação futura. -“Tudo é disperso, nada é inteiro. /Ó Portugal, hoje és nevoeiro... /É a Hora!”.

27 de janeiro de 2014

A Mensagem, Fernando Pessoa: um título "iniciático"


Algarve, foto minha
«O meu livro "Mensagem" chamava-se primitivamente "Portugal". Alterei o título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar — a observação era por igual patriótica e publicitária — que o nome da nossa Pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia.(1) «Quer V. pôr o título do seu livro em analogia com "portugalize os seus pés?"» Concordei e cedi, como concordo e cedo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador.
Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o por um título concreto por uma razão...
E o curioso é que o título "Mensagem" está mais certo — àparte a razão que me levou a pô-lo — de que o título primitivo.[...]. »

(1)Hotel Bragança, apelido da família real.

(Sublinhados meus)

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979. in http://arquivopessoa.net/

«E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova que não existe no espaço, em naves que são construídas 'daquilo de que os sonhos são feitos'».

«[...] Somos um grande povo de heróis adiados.[...] Somos hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita da geografia. [...] O Atlântico continua no seu lugar, até simbolicamente. E há sempre Império desde que haja Imperador.»

«A base da pátria é o idioma, porque o idioma é o pensamento em acção, e o homem é um animal pensante, e a acção é a essência da vida. O idioma, por isso mesmo que é uma tradição verdadeiramente viva , a única verdadeiramente viva, concentra em si, indistintiva e naturalmente, um conjunto de tradições, de maneiras de ser e de pensar, uma história e uma lembrança, um passado morto que só nele pode reviver. Não somos irmãos, embora possamos ser amigos, dos que falam uma língua diferente, pois com isso mostram que têm uma alma diferente.»

«Para justificar a sua aspiração (de agora) a um império cultural, tem Portugal, além da tradição quebrada desse império, isto é, da indicação inicial nesse sentido, a felicidade de não ter tido até agora uma grande literatura, mas uma literatura escassa e pequena, de modo que está quase tudo por fazer nesse campo,  o que torna possível o fazer tudo, e como deve ser feito.
“Fará paz em todo o mundo”, diz o Bandarra de D. Sebastião. E a paz em todo o Mundo, só numa fraternidade por enquanto imprevisível, mas que por certo exigirá um meio de comunicação igual - uma língua

Fernando Pessoa (fragmentos por mim seleccionados)

12 de janeiro de 2014

Memorial do Convento

1. - MC apresenta uma diferença entre a representação da história visível (presente nos manuais da disciplina de História) e a desconstrução da mesma, evidenciando uma profunda reinterpretação e reflexão sobre a sociedade, forçando a necessidade de inquirição do aluno sobre um outro sentido para a História;
2. - MC é um dos romances de Saramago em que se colocam com maior e melhor nitidez a questão da nova complexidade do estatuto do narrador, elemento de profunda originalidade da obra deste escritor;
3. - MC é atravessado, como referimos, por uma onda de lirismo como dificilmente encontra paralelo no romance português contemporâneo, lirismo profundamente harmónico com a mente adolescente dos alunos, para a qual a entrega à Arte (Scarlatti), à Ciência (Bartolomeu de Gusmão) e ao Maravilhoso (Blimunda) são alternativas credíveis na opção pelo sentido de vida;
4. - MC ostenta uma galeria de personagens maravilhosas, singularmente diferentes da normalidade social, que encanta a mentalidade adolescente, criando-lhe um optimismo existencial, uma vontade de enfrentar a vida como raramente se encontra no romance português;
5. - MC caracteriza na figura de D. João V e dos seus áulicos alguns dos males éticos de que padece a permanente elite portuguesa: a ostentação, a vaidade, o excesso, a ambição tola por imitação de modas estrangeiras, a indiferença para com o sofrimento das populações, a antiga repressão sobre a sexualidade do corpo feminino;
6. - MC denuncia, em estilo irónico, sarcástico, até jocoso, estilo que se conforma com a mentalidade adolescente, atraindo-a, o contexto sócio-político megalómano dos costumes cortesãos do século XVIII e a mentalidade interesseira da corte, obviando a evidentes paralelismos com a actualidade;
7. - MC expõe uma amplidão lexical como raramente se assiste no actual romance português, cruzando vocabulário erudito com popular, histórico com presente, abrindo um novo horizonte no domínio plástico da língua aos alunos;
8. - MC enfatiza a necessidade de transgressão social para que a História avance, enaltecendo a capacidade de acção comandada pelo sonho, pelo visionarismo, pela vontade de criação de um futuro diferente;
9. - MC lega uma mensagem implícita, que repercute inconscientemente na mente dos alunos: a necessidade de cada um construir a sua "passarola", de possuir o seu "sonho" e a necessidade de ser diferente dos restantes para o cumprir;
10. - Finalmente, por todos estes motivos, MC é um dos raros textos da literatura portuguesa que interpenetra de um modo admirável Vida e Literatura, Arte e Cidadania, Existência e Reflexão, não raro reconciliando os estudantes com o estudo da Língua e da História.
 
(Nota: MC= Memorial do Convento)

Miguel Real, Aqui

Os Dias De... Todos os Dias.