27 de janeiro de 2014

A Mensagem, Fernando Pessoa: um título "iniciático"


Algarve, foto minha
«O meu livro "Mensagem" chamava-se primitivamente "Portugal". Alterei o título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar — a observação era por igual patriótica e publicitária — que o nome da nossa Pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia.(1) «Quer V. pôr o título do seu livro em analogia com "portugalize os seus pés?"» Concordei e cedi, como concordo e cedo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador.
Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o por um título concreto por uma razão...
E o curioso é que o título "Mensagem" está mais certo — àparte a razão que me levou a pô-lo — de que o título primitivo.[...]. »

(1)Hotel Bragança, apelido da família real.

(Sublinhados meus)

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979. in http://arquivopessoa.net/

«E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova que não existe no espaço, em naves que são construídas 'daquilo de que os sonhos são feitos'».

«[...] Somos um grande povo de heróis adiados.[...] Somos hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita da geografia. [...] O Atlântico continua no seu lugar, até simbolicamente. E há sempre Império desde que haja Imperador.»

«A base da pátria é o idioma, porque o idioma é o pensamento em acção, e o homem é um animal pensante, e a acção é a essência da vida. O idioma, por isso mesmo que é uma tradição verdadeiramente viva , a única verdadeiramente viva, concentra em si, indistintiva e naturalmente, um conjunto de tradições, de maneiras de ser e de pensar, uma história e uma lembrança, um passado morto que só nele pode reviver. Não somos irmãos, embora possamos ser amigos, dos que falam uma língua diferente, pois com isso mostram que têm uma alma diferente.»

«Para justificar a sua aspiração (de agora) a um império cultural, tem Portugal, além da tradição quebrada desse império, isto é, da indicação inicial nesse sentido, a felicidade de não ter tido até agora uma grande literatura, mas uma literatura escassa e pequena, de modo que está quase tudo por fazer nesse campo,  o que torna possível o fazer tudo, e como deve ser feito.
“Fará paz em todo o mundo”, diz o Bandarra de D. Sebastião. E a paz em todo o Mundo, só numa fraternidade por enquanto imprevisível, mas que por certo exigirá um meio de comunicação igual - uma língua

Fernando Pessoa (fragmentos por mim seleccionados)

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