30 de janeiro de 2014

A Mensagem: História e Mito

«O mito é nada que é tudo.»
 
É com estas palavras, aparentemente paradoxais (Ulisses), que Fernando Pessoa apresenta a sua visão dos Heróis portugueses e de um Portugal, simultaneamente histórico e mítico. 
 
Um mito baseia-se numa realidade, mas constrói-se de sonhos. A quem compete concretizar esses sonhos? "preencher" de tudo o que é nada? Aos Heróis, àqueles que foram os eleitos de um Deus que "quis" que fossem os Portugueses a realizar, a cumprir esse Sonho, materializá-lo em termos de Império: "Deus quis, o Homem sonha, a Obra nasce." (O Infante).
Portugal teve uma origem mítica, os seus reis e outros heróis "limitaram-se" a cumprir a Vontade de Deus: Afonso Henriques que venceu os infiéis; D. Dinis que mandou plantar os pinhais de Leiria para que houvesse madeira para construir as naus ("o plantador de naus a haver"); D. Sebastião, que protagoniza o Sonho do Homem que ultrapassa a sua condição de "besta sadia", pela "Loucura", uma espécie de dimensão visionária do Homem. 
Os sacrifícios serão imensos: "Ó mar salgado, quanto do teu sal/ são lágrimas de Portugal" (Mar Português). Mas ninguém é Herói se não ultrapassar as "provas", os obstáculos que permitirão que, posteriormente, tal como os marinheiros de Os Lusíadas tiveram como prémio o Amor das Ninfas, obtenham, na Mensagem, a recompensa de "Os beijos merecidos da Verdade" ( Horizonte).                                                         
 
Os Portugueses foram "sagrados" por Deus e, mesmo sabendo que "o Império se desfez" (Infante), há que romper o Nevoeiro que apenas encobre o Futuro! uma perspetiva de Império, o Quinto Império, que será português, "a Distância/ Do mar ou outra, mas que seja nossa!" (Prece).
 
Alguém virá reencarnar a "loucura" de D. Sebastião, o Encoberto, o Desejado: "Quem vem viver a verdade/Que morreu D. Sebastião?" (O Quinto Império). 
E neste momento de "entristecimento", de "nevoeiro", de decadência de Portugal, há que não esquecer que, em qualquer momento, pode ser a "Hora"! (Nevoeiro).
O Sebastianismo messiânico de quem espera uma redenção futura faz-se através de um apelo profético de quem não deixa de acreditar no poder das forças ocultas do Homem Português, na sua "sagração" por Deus, na sua ânsia de "loucura"
 

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