27 de novembro de 2013

Álvaro de Campos: o Poeta Excessivo

Álvaro de Campos é um engenheiro de máquinas: "À dolorosa luz das lâmpadas eléctricas tenho febre e escrevo...".
 

A Brasileira do Chiado

 
1. Fase do Opiário:

Com um único poema, "Opiário", dedicado a Mário Sá-Carneiro: o Oriente, o sonho, a tentativa de "esquecimento"-
«E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
[...]»
 
2. Fase Futurista:
Faz o elogio da civilização industrial e da técnica, das máquinas: -“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”. Entra em rutura com o lirismo tradicional  de índole subjetiva. Pretende, de um modo excessivo, fazer a exaltação das máquinas, do Futuro, da civilização moderna, porque é com ela que se  atingirá a perfeição.
E o excesso é sensacionista, "excesso de sensações": "Sentir tudo de  todas as maneiras", de tal forma sentido que conduz a uma espécie de vertigem, em que já não se distingue o sofrimento do bem estar: “Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”. (in Ode Triunfal)

2. Fase Decadentista:
Os seus poemas exprimem uma profunda abulia, um tédio, um mal-de-vivre, a que o sujeito poético chama "cansaço", um "supremíssimo cansaço" e cuja causa ele não consegue identificar: "Não disto nem daquilo,/ Nem sequer de tudo ou de nada...". Essa abulia chega mesmo a exprimir-se como náusea:- "Que náusea de vida!" (in Dactilografia).
Neste momento, vive uma espécie de caos interior, que lhe provoca um profundo sofrimento:- "A minha alma partiu-se como um vaso vazio", uma fragmentação do eu:- "Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir". (in Apontamento).
Além disso, há a expressão de uma incompatibilidade entre a sua própria realidade e a realidade dos outros:- " Não: não quero nada./ Já disse que não quero nada." (in Lisbon revisited); uma recusa em viver o quotidiano que supostamente lhe querem impor, que resulta numa solidão existencial irremediável e procurada:- " Traço sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,/ Firmo o projecto, aqui isolado.(in Dactilografia).
O seu único refúgio é a evocação de uma memória de infância, vivida ou sonhada, como um tempo de felicidade irrecuperável, uma espécie de  paraíso perdido, que ele recorda com nostalgia:- "No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,/ Eu era feliz e ninguém estava morto".( in Aniversário).
 
Linguagem e Estilo:
Exprimem o caos interior e o excesso, através de enumerações, repetições, anáforas, onomatopeias, aliterações: "Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r eterno!" (in Ode Triunfal). Também o recurso a uma pontuação eufórica: exclamações, interrogações, apóstrofes, interjeições.
Para exprimir os seus estados de espírito "surpreendentes" e excessivos, usa metáforas, comparações: "Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!" (in Aniversário); para a expressão dos conflitos interiores, usa a antítese e/ou o paradoxo: "Nem sequer de tudo ou de nada:" (in Cansaço).
A forma é, igualmente, caótica: estrofes com número de versos variável, ora muito longas ora brevíssimas; os versos, do mesmo modo, têm um número variável de sílabas métricas, de acordo com o seu ritmo interior; não usa rima: verso branco.

Sem comentários:

Enviar um comentário