9 de março de 2010

Ricardo Reis: o Poeta da Serenidade Racional



Ricardo Reis é o heterónimo que teve uma formação clássica  e isso reflecte-se na sua poesia, nommeadamente, através das  filosofias que procura transpor para a vida: o Estoicismo e o Hedonismo.


( serigrafia de Osório)

Os Deuses, o Destino, o Fatum (Fado) provavelmente divertem-se  com o sofrimento que o Homem  vive no seu quotidiano, até porque não lhe é concedido conhecer o futuro:  a morte nunca sabe quando  chegará.
A única maneira, estóica, que o Homem tem de se libertar destas limitações e do divertimento dos Deuses, é não criar laços afectivos: se não se ligar a ninguém, quando morrer, ninguém vai lamentar ou sofrer com a sua morte e, por outro lado, ele próprio não sofrerá com a perda de alguém. É uma imperturbabilidade de desafio ao Destino.

"Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças."

Por outro lado, adopta uma atitude filosófica epicurista: viver o momento, o presente, como  se fosse o último e o único, carpe  diem, fingindo (sempre o fingimento!!) que não se preocupa com o futuro, desfrutando dos prazeres calmos e serenos, mas intensos -"Nada se sabe, tudo se imagina./Circunda-te de rosas, ama, bebe/ E cala. O mais é nada."- desse momento irrecuperável, porque não se repetirá:

"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa.(...)"

A linguagem e o estilo:

A linguagem e o estilo são eruditos, de acordo com as influências clássicas.
-A construção da frase é requintada, com o uso de muitas inversões da ordem das palavras na frase: anástrofes e hipérbatos: "essas volucres, amo, Lídia, rosas".
-Uma das figuras de estilo mais utilizadas é o eufemismo, porque parece que o sujeito poético quer suavizar a realidade crua: "se for sombra antes..." (=morrer).
Usa também a antítese e paradoxo: "nem cumpre o que deseja[o destino]/ nem deseja o que cumpre..."; a personificação, principalmente  relacionada com o Destino.

A forma: poemas com uma estrutura regular, estrofes com o mesmo número de versos, versos de 10/6 sílabas métricas(podem variar); não usa a rima, verso branco.-
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